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Rascunho da planta para reforma do apartamento Júlio de Mesquita

Um dia é pouco para refletir sobre habitação digna

Anualmente, uma data celebra conjuntamente o Dia Mundial do Habitat e o Dia Mundial da Arquitetura, na primeira segunda-feira de outubro. A convergência faz todo sentido, já que a ideia é refletir sobre o espaço das cidades e desenhar soluções para que sejam mais justas e inclusivas, o que passa necessariamente pelas condições de moradia para a população. E isso deve ser uma preocupação de toda a sociedade, todos os dias do ano.

Nunca é tarde para lembrar que, desde 1948, o direito à moradia é considerado fundamental por declaração dos Direitos Humanos. No entanto, um grande número de brasileiros não tem onde morar, sendo que grande parte da população ainda reside em moradias absolutamente precárias. Isso afeta a saúde física e mental, o que inviabiliza o pleno desenvolvimento de qualquer indivíduo.

Moradia x Propriedade

Não por acaso, a origem do FICA se deu a partir de um grupo multidisciplinar, com forte presença de arquitetos e urbanistas, que decidiu pensar alternativas para oferecer moradia digna e acesso à cidade para pessoas de baixa renda. Ao mesmo tempo em que procuramos proteger da especulação imóveis de uma região fundamental para a história arquitetônica de nossa cidade – o centro de São Paulo.

Sabemos que no Brasil existe uma premissa que liga habitação à propriedade privada. Mas acreditamos que há uma alternativa ao mercado e nos dedicamos a ir além do discurso. Trabalhamos como formiguinhas para mobilizar mais pessoas que pensam como nós e promover a ocupação democrática da cidade, buscando um caminho de justiça social que garanta a dignidade humana, a começar pela moradia. E para isso, assumimos a missão de tornar real e acessível a propriedade comunitária.

Aluguel sem especulação no centro da cidade

O centro da cidade é uma região altamente cobiçada pelo mercado imobiliário, uma vez que concentra a melhor oferta de serviços, transportes e acesso a oportunidades de trabalho, assim como lazer. Em São Paulo não é diferente.

Todas essas condições que tornam a área ideal para moradia e, portanto, valorizada, acabam gerando o aumento especulativo do valor dos imóveis, mesmo quando não oferecem o devido conforto e salubridade. Os preços dos aluguéis sobem exageradamente, inviabilizando que famílias com menos recursos permaneçam na região, ainda que estejam ali há décadas e gerações construindo suas vidas e meios de sobrevivência.

É assim que os trabalhadores de baixa renda são “empurrados” para a periferia e para os longos trajetos de deslocamento para o trabalho e serviços, em bairros com pouca infraestrutura e habitações precárias. É justamente isso que queremos evitar que aconteça, comprando imóveis e colocando-os sob a perspectiva da propriedade comunitária.

O FICA já possui dois apartamentos, um no bairro da República, outro na Sé, cada um alugado a uma família por um valor que chega a ser 40% mais baixo que a média dos imóveis na mesma região. Estamos prestes a adquirir o terceiro, com recursos das doações de nossos apoiadores e também parte do valor dos aluguéis.

Conheça os apartamentos do FICA.

Uma casa compartilhada em vez de cortiço

Repúblicas e coliving são soluções de habitação compartilhada relativamente recentes para otimizar recursos, principalmente por jovens e profissionais em início de carreira. São vistas com entusiasmo como processo desejável da economia colaborativa e sustentável. No entanto, muito antes delas, haviam os cortiços – casas onde os cômodos são alugados por famílias inteiras e que dividem entre si as instalações sanitárias.

Obviamente são coisas bastante diferentes, principalmente no contexto de classe social. Contudo têm em comum o princípio de uma comunidade reunida pela otimização de espaços e recursos. Não deixam de ser alternativas à propriedade privada e individualista, de forma temporária ou não.

Infelizmente, os cortiços são a solução enfrentada por famílias pobres e, apesar de terem um custo de aluguel alto nos grandes centros, não raro, têm infraestrutura precária, insalubre e mal organizada. Mas, se superadas essas dificuldades, a casa compartilhada surge como uma alternativa barata para trabalhadoras e trabalhadores de baixa renda habitarem a região central.

Tendo isto em mente, o FICA também busca adquirir e/ou administrar imóveis em risco de serem encortiçados para que sejam estruturados como casas compartilhadas no centro de São Paulo. Com os conhecimentos e parcerias necessários, realizamos reformas e adequação dos espaços para oferecer maior conforto nos cômodos compartilhados, viabilizamos uma alternativa aos atuais moradores de cortiços.

Assim, partimos de uma solução tradicional de compartilhamento de um imóvel, interferindo para torná-la uma vivência comunitária e não especulativa, com maior segurança, salubridade e formalidade no aluguel.

Depois de testarmos o modelo de compartilhamento em nossas primeiras casas, o próximo passo é adquirir um cortiço já em operação, fazendo intervenções para melhorar a qualidade da habitação e de vida dos moradores.

Atualmente o FICA faz a gestão de três imóveis próprios ou não, na região do Bom Retiro e Brás. A iniciativa é viabilizada com recursos de pessoas físicas alocados em um fundo de investimento de impacto social.

Entenda como funciona o Compartilha.

Habitação e Desenvolvimento Sustentável

Nossa jornada segue alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável traçados pela ONU, mais especificamente o ODS 11 – “Cidades e Comunidades Sustentáveis”. O FICA atua tendo em vista “tornar as cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis”, e para isso trabalha para oferecer moradias adequadas e acessíveis.

Sabemos que, sozinhos, não temos condições de resolver o problema da habitação, mas também é papel da sociedade civil viabilizar habitação social e comunitária. Assim, convidamos mais pessoas a colaborar conosco e criar condições para retirar imóveis do mercado especulativo, fazer melhorias para otimizar espaços e recursos, e então oferecê-los para aluguel por preço justo para famílias que mais precisam.